sábado, 2 de agosto de 2008

O Show tem que continuar


"Esse texto, diferentemente dos demais, não é cômico e foi direcionado para algumas pessoas. Mas, é um dos que mais gosto".

Era uma vez um circo, porém esse era diferente dos demais. A começar pelo ambiente, quando entrávamos lá, era como se estivéssemos em casa, sempre éramos recebidos de forma muito cordial e feliz por seus artistas, que através de suas atrações sempre dotadas de muita criatividade, levava-nos de modo muito simples e espontâneo, a uma alegria inexplicável.

Dentre os artistas, tinha o Apresentador...
Sua característica principal era o empenho dado ao seu trabalho. Fazia-o com gosto e por isso sempre obtinha sucesso. Além disso, ele era muito inteligente, seus ensinamentos do exército teria o deixado sempre pronto para qualquer coisa, não havia nada que o intimidasse. Para qualquer pergunta de duplo sentido, havia sempre uma resposta na ponta da língua. Por causa desse apanhado de experiências, o apresentador conseguia dominar o show e levar seu público sempre ao delírio.

Depois vinha a Ilusionista.
Essa era dotada de incrível charme, embora um pouquinho acima do peso, possuía mágicas sempre surpreendentes e conseguia em todas as ocasiões, prender a atenção do público do início ao fim. Zelosa com seus truques cuidava de seus espectadores e de seus companheiros de circo sempre da melhor maneira possível. Quando surgisse qualquer sinal de perigo em sua mágica, ela era capaz de ferir a si próprio, mas jamais de ferir a outra pessoa. Devido essas virtudes, seus shows sempre terminavam com a platéia a aplaudindo de pé.

Outro artista de grande presença, grande mesmo, era a atiradora de facas.
Essa era incrível, possuía uma doçura em seu caráter raramente visto nas pessoas. Suas qualidades eram imensas, tinha muita transparência, sinceridade, alegria e objetividade, porém ela era sempre direta nas ações e por isso, o risco de ver essa pessoa era grande, pois a qualquer falha, o alvo poderia ser você. Porém, tudo isso era esquecido, pois sua confiança era tão grande, que tornava o espectador sempre seguro e ansioso para assistir seus números. No fim de suas apresentações, os espectadores sentiam uma espécie de alívio, misturado com muito prazer.

Vinha o palhaço.
Esse não precisa nem dizer, era certeza de muita risada. Com seu jeito desengonçado, ele tinha conquistado uma multidão de admiradores.
Embora sempre irreverente, ele possuía um enorme coração, claro que isso não era um problema, mas ele tentava ao máximo esconder essa qualidade. Porém o que ele não sabia, era que todos enxergavam isso, pois sua bondade ultrapassava qualquer tinta que pintasse no rosto ou roupa larga que vestisse. Daí, o público fingia que não via toda essa bondade camuflada e chorava de rir com suas brincadeiras.

Para finalizar a festa, surgia o homem bala.
Suas apresentações eram dotadas de muita adrenalina. Mesmo com suas performances perfeitas, esse artista ainda possuía incrível inteligência e facilidade para lidar de forma irônica com as dificuldades. Tirava sarro do palhaço, do apresentador, do público, parecia estar acima de todos, de tudo. Por isso, parecia não ter medo de nada, mas no fundo, a realidade era oposta, ele necessitava de todos e de tudo, porém a forma que ele fazia para se sentir seguro era exatamente escondendo sua insegurança. Suas apresentações levavam todos à alucinação, porque por alguns instantes, embora sentados e seguros, os espectadores acreditavam sentir na pele a adrenalina daquele artista.

Tudo corria muito bem, até que de forma repentina, o palhaço por infelicidade do destino, teve um problema.

Todos seus companheiros e espectadores se abalaram, porém mesmo sendo a maior vítima desse imprevisto, o palhaço mostrou de forma muito humorada e esperançosa, o verdadeiro valor do show. Lutou o máximo que pôde, sem abaixar a guarda em nenhum momento e, provou por A mais B, que embora o imprevisto tenha ocorrido, nada poderia atrapalhar o sucesso desse circo.

Ao perceber essa dedicação do palhaço para seus espectadores e acima de tudo para o Circo, todos tiveram conflitos de sentimentos, misturando a alegria ao choro, o delírio ao alívio, e a todos os outros sentimentos experimentados anteriormente nas apresentações dos bravos artistas.

Porém, por fim, todos, sem nenhuma exceção aplaudiram de pé e emocionados o lindo empenho do palhaço e a forte sobrevivência do Circo.

Depois da saída do palhaço, o Circo começou a mudar. Os artistas começaram a se desentender, parecia que todo o charme havia acabado. A harmonia não existia mais, o trabalho em equipe parecia ter sido substituído pelo brilho individual. As apresentações antes realizadas sempre com muito entrosamento, se tornaram limitadas no talento individualista de cada artista.

Claro que o talento de todos foi sempre muito explícito, porém com essa desunião, a alegria aparentava não reinar mais.

Enfim, os ensinamentos que o palhaço deixou, de força, de harmonia, de companheirismo, de relação interpessoal, de dedicação, de preocupação com o companheiro, etc., foram deixadas de lado e substituídas por uma disputa de ego e pequenas intrigas.

Será que um artista não deveria acolher o defeito do outro, entendo que todo ser humano, por mais especial que seja, terá suas distorções e altercações?

Será que não seja mais consciente manter a harmonia do circo (exatamente da forma que o palhaço sempre desejou), no qual a importância das inúmeras qualidades de cada artista se sobressaia aos seus pequenos defeitos?

Não resta dúvida que todos seus artistas possuem dons inenarráveis de cativar e alegrar o público, porém é incompreensível imaginar que quatro artistas fantásticos não conseguem viver em harmonia.

É importante lembrar que um circo não é feito de uma única estrela e sim da soma delas.

Portanto, hoje o que o Palhaço e o público mais querem, é que esse Circo volte a sorrir e que busque o sucesso destinado, pois afinal, O SHOW TEM QUE CONTINUAR!

Doug Espectador
"Fã de carteirinha"

Um comentário:

Renata disse...

Lindo, lindo, lindo! Sem palavras.. vc realmete tem um dom maravilhoso! Parabéns Douglitas....